terça-feira, junho 24, 2014

DIAS PERFEITOS



Devorei em menos de uma semana o livro “DIAS PERFEITOS” do carioca Raphael Montes . Poucas vezes um personagem me causou tanto incômodo e raiva como o estudante de medicina Téo. Com a firme intenção de convencer Clarice - por quem se apaixona imediatamente- de que ele é o melhor para ela e que o casamento e a vida em comum seriam a materialização da felicidade de ambos, lança mão de artifícios não convencionais como sequestrar, algemar e sedar a amada a fim de que, convivendo somente com ele, na serra e no mar, possa descobrir um sentimento que ainda não conhece.

A montagem do personagem é muito bem feita. Ele é um aluno exemplar, um menino limpinho e cuidadoso, zela da mãe cadeirante, não fuma, não bebe, é virgem, vegetariano. Mas quando a paixão bate à porta transforma sua forma de ser, assumindo posturas duras, que chegam a violência e ao egoísmo. Talvez ele não se transforme, apenas permitiu que este lado com que sempre conviveu- viesse à tona de forma gigante. O que chama a atenção são as certezas que o personagem revela: ele crê firmemente que esta agindo certo para o bem dela, mesmo com sua discordância. A personalidade psicopata vai se revelando a cada página nas suas reflexões, na frieza dos gestos e na conjunção do pragmatismo que o estudo da medicina o evoca.

O clima de suspense do livro, cujos direitos já foram negociados para o cinema, cria reviravoltas e surpresas na narrativa. O autor, com 23 anos, se destaca na literatura noir nacional e neste segundo livro se firma tocando em pontos pouco falados a um público que prefere romances açucarados ao sangue jorrando. Os relacionamentos que se transformam em prisão são metaforizados (numa forma de analisar a história), através de um sistema de compensação e castigo, fruto de relações desequilibradas, levando ao desgaste que faz baixar as armas das resistências. A paixão do sequestrado pelo sequestrador – a famosa síndrome de Estocolmo, pode ser falsa e no livro seria uma saída fácil demais para um autor que prefere caminhos sinuosos.





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