domingo, dezembro 10, 2006

Crônicas de Portugal II


Minha conversa com Fernando Pessoa

O dia em Lisboa começou cinza e chuvoso, não permitindo longos passeios na cidade principalmente na beira do Tejo, onde eu estava. Refugiando-me da fina chuva entrei no Mosteiro dos Jerônimos, alterando o meu roteiro. A capela lateral enorme e escura e os cantos gregorianos convidavam ao silêncio e ao recolhimento que tanto gosto nos dias de inverno. Logo na entrada as tumbas de Vasco da Gama e de Camões se destacavam como verdadeiras obras de artes bem trabalhadas em detalhes de escultura. Caminhei pelas salas amplas em estilo gótico, com vitrais imensos, pelos quadros pintados há séculos, pelos corredores largos ate me deparar um pátio que descortinava um lindo jardim. Andando pelos corredores que o ladeavam me deparo com o túmulo do poeta Fernando Pessoa, para minha surpresa e alegria. Sentei por ali e fiquei lendo os fragmentos de poemas escritos sobre a sua ultima morada e estabelecendo um dialogo de geminianos entre nos dois.

Pessoa nasceu no dia de Santo Antonio, eu esperei umas horas a mais para nascer no dia seguinte. Ambos padecemos das angustias da vida, do medo da solidão, das exigências conosco mesmo e de uma infinidade de outras características. Penso no que o poeta português havia concluído de suas reflexões e leio na sua cova “Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer." Será que ele esta querendo me dizer que não vale a pena lutar e se esforçar, mas a outra frase, vinda do heterônomo Ricardo Reis, declara “Pára ser grande, sê inteiro. Nada teu exagera ou exclui.Sê todo em cada coisa, tanto quanto és no mínimo que fazes. assim em cada lago a lua toda brilha, porque ela vive.” i dali mais confortado e tomando um café no bairro do Chiado, me deparo com uma estatua de Pessoa, em tamanho natural, no centenário café “A Brasileira” tão freqüentado por ele. Sentado ao lado da homenagem lembro das ultimas palavras ditas por ele: "Eu não sei que o que amanhã trará." Uma tarde pessoana e lisboeta.

Ontem fui a Fátima.

O lugar é sóbrio e bonito. Existe um depósito de velas onde as pessoas pegam e deixam lá uma moeda conforme o tamanho.Depois as acendem num lugar determinado. Onde foi a aparição hoje e\é uma capela, cercada por paredes de vidro, com grandes portas que se abrem. O ambiente é de silêncio e prece. Caminhando há uma esplanada enorme e na frente a igreja onde estão enterrados os pastores que tiveram a visão. Na coroa da imagem, dentro da Igreja a bala que atingiu o Papa no atentado de 1982. Continuando pelas laterais, onde nas paredes foram pintadas belas imagens da via sacra, ouço o sino bater 11h. Para minha surpresa o campanário começa a tocar uma música antiga que aprendi na primeira comunhão. Eu paro e canto junto: "A treze de maio foi que apareceu......". Olhando aquele lugar de devoção, ouvindo este hino eu me emocionei e chorei...

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