terça-feira, dezembro 12, 2006

Eu fui a Cuba e vi Fidel


Em função de um compromisso de trabalho passei dez dias na ilha de Cuba, que outrora fora o símbolo da resistência ao capitalismo americano e sonho de um mundo melhor e socialista. Infelizmente, minha estada lá serviu para notar que o sonho há muito acabou, e hoje a capital Havana não se difere muito de megalópoles, cujo objetivo principal é caçar os dólares dos turistas e para isto qualquer atitude é possível. O país é um recorte de contrastes gritantes.

Já no aeroporto José Martin se percebe o estilo de vida cubano. A burocracia para liberação do visto, as infinitas perguntas, e os olhares de desconfiança dão o tom de tensão a que estaríamos sujeitos durante todo o período. Filas para pegarmos as bagagens, fila pra entrar no ônibus especial que nos levaria ao hotel, filas, filas, filas....Praticamente uma instituição cubana.

O mar do Caribe é lindo, um azul turquesa que contrasta com o céu, na maioria dos dias sem ondas e calmo, mas quando sobra um vento forte, o mar se revolta e cria ondas muito altas que terminam nas margens e rodovias interrompendo o trânsito. O centro antigo de Havana, patrimônio cultural da humanidade, reúne um conjunto de prédios históricos muito bonitos que contam toda a epopéia do povo que foi colonizado por espanhóis e conquistou e libertação em 1899. O movimento revolucionário, liderado por Fidel Castro e Che Guevara, entre 1956 e 1959, é contado no Museu da Revolução, encarregado de preservar este episódio e ressaltar as conquistas do país.

A revolução comunista, que aconteceu há 44 anos, esta presente em cada detalhe da ilha. Nos painéis colocados estrategicamente nas ruas, na propaganda dos avanços nas áreas de educação, onde o analfabetismo se erradicou há mais de 30 anos, e saúde, um exemplo estudado e exportado para diversos países do mundo- sobretudo os países pobres. Não existem miseráveis nem favelas, mas a limitação de recursos obriga muito dos nativos a buscar vias alternativas de ampliar sua renda, sobretudo criando opções para o turismo como apresentações artísticas, guias e a prostituição que cresce cada vez mais. Mesmo proibida e reprimida pelo governo, esta prática é difundida de forma clandestina por motoristas de táxis que oferecem o serviço de mulheres profissionais para os passageiros ou através da abordagem de garotos em frente a lugares turísticos.

Nas ruas, largas e limpas, circulam poucos veículos se comparados as grandes cidades brasileiros, a maioria da década de 50 cuidados com atenção pelos proprietários. Mas também existem coreanos, vindos de uma fábrica no Panamá, que contrastam pela modernidade. Toda a negociação feita com o turista é baseada no dólar americano e assim os preços ficam muito caros. Uma refeição ruim custa cinco dólares, mediana 10. Se come muito mal mas, em compensação, se bebe muito bem. O “mojito”, a bebida preferida de Hemingway, mistura suco de limão, hortelã e um rum típico e deixa qualquer um alegre e pronto para dançar rumbas e outros ritmos típicos.

No meio de toda esta decadência a cultura cubana se impõe e se firma. Em alguns locais músicas americanas são proibidas. O Teatro Nacional tem uma agenda lotada com espetáculos a preços acessíveis, para os nativos, e lugares típicos como “La bodeguita del Médio” ou o “Buena Vista Social Club” possibilitam ao visitante um passeio pelo modo de viver dos cubanos.

Na famosa sorveteria Coppélia, cenário do filme Morango e Chocolate, uma enorme fila, numa das entradas desanimava. Um funcionário, que falava fluentemente português e inglês, informou que aquela era a entrada dos nativos, os turistas entravam por outra com o atendimento rápido, porque pagavam em dólar. Um sorvete básico, nos custou quase quatro dólares, para o mesmo produto um cubano pagava 25 centavos de peso. Não é difícil de entender a fila.

Um dos pontos mais interessantes de nossa estada na ilha foi ver ao vivo o Comandante Fidel Castro , na abertura de um evento. Recebido com aplausos de pé pelo público, com a barba grisalha, o uniforme verde oliva e o ar de avô. Na nossa frente estava o homem que comandou um revolução, que resiste a quatro décadas de embargo, que afronta até hoje os poderosos americanos e cuja estampa enfeitou camisetas, flâmulas, bandeiras e cartazes em todo o canto, quando se falava em esperança. Uma parte viva da história do século 20.

Olhando para aquela figura, com quase 80 anos, pude entender o quanto o ideário cubano esta calcado no seu carisma. Por isto o futuro do povo cubano é tão incerto, ninguém sabe o que virá depois. Se por um lado se vê ainda fé e crédito nos idéias revolucionários, por outro, sobretudo junto aos jovens, se nota revolta e vontade de mudar.

Quando atos extremos são praticados o silencio baixa, mas a revolta continua. Estava lá quando foram executados os dissidentes, que seqüestraram uma balsa turística com o objetivo de fugir até Miami. Uma nota fria foi lida na TV estatal várias vezes ao dia, como um lembrete e um esclarecimento.

Conhecer Cuba é uma experiência única na vida de qualquer um. Para nós foi uma oportunidade cheia de significado, pois voltamos com a impressão de que assistimos os últimos momentos de um ciclo que se iniciou como proposta de um mundo novo e chega ao ocaso como ditadura, com defeitos e vantagens, como qualquer tipo de governo em qualquer parte do mundo.

(março/2003)

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Lee, adorei a sua pag.
bem organizada, e com conteudo bom ..
Abraços querido..

Anônimo disse...

Oi querido! Demorou hein? Mas ficou ótimo, já linkei no reverberacoes, ok? Bj
KK