terça-feira, março 06, 2007

Não existe realidade, tudo é parcial e ocasional


Nunca se terá uma visão completa da realidade. Ela é tão fragmentada, tão frágil, tão fugidia que se torna o somatório de uma infinidade de pontos de vista sobre algo, que se multiplica na medida em que aumenta o número de envolvidos. Tudo sempre é parcial, fruto de uma realidade momentânea que só reflete o conjunto de elementos que estão agindo sobre nós naquele momento, naquela intensidade, daquela forma. Dali a pouco, como pouco antes, tudo pode ser diferente. Nosso drama maior é relutar em não aceitar esta verdade: não se sabe tudo de tudo o tempo todo. Só temos a nossa pequena parcela de percepção sobre uma parte, que corre o risco de não ser nada.

Talvez somente estas definições expliquem as mudanças rápidas no humor, nas vontades, nos sentimentos e comportamentos das pessoas e que levam em conta apenas os seus interesses e desejos, independente das expectativas produzidas. Já há muito tempo que estamos acostumados a coisas rápidas e descartáveis. O café e solúvel, a roupa tem prazo de duração, os sapatos duram menos, os cursos precisam de complementação e reciclagem senão pouco vão valer, os carros e computadores são comprados por muito e vendidos por pouco. Isto cria uma necessidade de se estar sempre atualizado, conectado, ligado nas últimas tendências para não se sentir excluído. Assim nas relações pessoais este fenômeno também acontece em escalas cada vez maiores.

Ontem o "eu te amo" era dito a cada duas frases, foi substituído rapidamente por "estou saindo com outra pessoa.” Semana passada as expectativas de futuro eram desenhadas em conjunto, agora dormem o sono eterno do esquecimento e da indiferença. Há pouco se ouvia que o amor seria eterno, mas ele não resistiu a um carnaval e só sobraram cinzas. O amigo chega de mau humor, o pai fica silencioso, o vizinho não sorri mais, o porteiro nem diz bom dia, o colega de trabalho passa a te tratar mal, o conhecido vira a cara. O amor se vai, o desejo some, a saudade não vêm, o que era certo não existe mais.

Mas esta não é uma peculiaridade do outro. Quantas vezes alteramos o rumo dos nossos pensamentos e comportamentos de forma tão rápida que deixamos tontos os que nos acompanham, ou tentam nos acompanhar. Quantas vezes uma madrugada de tesão abala uma fidelidade de anos. Quantas vezes alguém se que pautou pela virtude se concede uma especial licença para a luxúria.

Não e possível julgar ou condenar estes comportamentos, eles são partes de um mundo rápido e competitivo onde não há lugar para compromissos, responsabilidades, acordos cumpridos, sinceridades. Somos frutos de realidades que vêm de fora e que nem a conhecemos totalmente. Tentamos viver o nosso pedaço de vida, às vezes nos esforçando para conectar com outros pedaços, talvez o seu somatório resulte num todo, talvez sejam apenas vários pedaços agrupados não formando nada.

6 comentários:

MaxReinert disse...

...ah, a dúvida... as incertezas, o futuro e as verdades... são tão fugidias e inconstantes... mas, em algum lugar, deve haver um espaço para um sentimento com uma base forte e permanente... mesmo que as relações terminem, ficam as lembranças do que foi bom (a parte ruim a gente releva!)... mesmo que os encontros já não sejam mais possíveis ou desejados, fica a memória da pele, o calor e o gozo sentido... mesmo que o hoje não seja o que esperávamos, fica a memória do ontem e os desejos para amanhã!

Anônimo disse...

eh realmente me identifico com seus textos..

entãoooo..

assim, as vezes queremos pq queremos que a vida do outro complete a nossa, e ficamos numa luta interminavel para que isso aconteça, mais para que isso aconteça depende que as duas pessoas estejam dispostas as vezes ate a mudar certas coisas em suas vidas, se uma das partes reluta em nao querer, entao eh melhor cada um seguir sua vida e isso pode ser o melhor que pode acontecer...

pq coisas melhores podem estar reservadas para suas vidas.

Anônimo disse...

..somos capazes de voltar ao tempo e refazer nossas escolhas ou de mudar nossos sonhos ou ainda nos reiventar, pois somos fruto de nossas escolhas, mas em cada momento temos apenas uma idéia de como é a opção que escolhemos.

Unknown disse...

oi. primeiramente, obrigado pelo seu post no meu blog, que anda um tanto desatualizado...
segundo, seu blog é beeem bom! vou parar com mais tempo para ler os outros posts. adorei o que eu vi até agora. ;)

Anônimo disse...

oi. primeiramente, obrigado pelo seu post no meu blog, que anda um tanto desatualizado...
segundo, seu blog é beeem bom! vou parar com mais tempo para ler os outros posts. adorei o que eu vi até agora. ;)

Unknown disse...

É verdade o que tá escrito...
Não concordo muito com a noite do carnaval, pois se abalou é por que deixou-se abalar, alguma parte assim o fez, e o silêncio veio por deixar-se tomar conta de uma raiva súbita...aaah o diálogo, este que nessa era tão atual vem sendo substituido por súbitos pensamentos que nem mesmo deixaram-se explicar!
a vida é uma roda gigante, um dia ela para de rodar quem sabe, mas enquanto ela roda, creio que encontros ainda estão por vir em ocasiões que nem mesmo o destino sabe a data!
Abraço
Guilherme