segunda-feira, setembro 03, 2007

Eu sou gaúcho



Outro dia estava numa formatura em Porto Alegre e no final de cerimônia cantaram o Hino Rio Grandense. Foi bonito de ver o povo de todas as idades entoando a letra, acompanhando a melodia, se emocionando com cada verso. Fazia um tempão que eu não cantava o hino gaúcho e achei até que tinha esquecido. Mas foram os primeiros acordes iniciarem e a ledo as conveniências da história, que a virilidade e a macheza decantada obedeciam a critérios estreitos que quando colocados às claras, revelava coisas escondidas e limitadas. Que muito machismo, preconceito e ignorância estavam escondidos debaixo destes pmbrança da letra, que canta as glórias passadas, mas prega a virtude acima da bravura, veio ao meu encontro. Naquele momento, distante do meu estado há quase três anos, que pude ver o quando sou gaúcho e o quanto este sentimento de gauchismo este incrustado em mim. Não se trata de querer esconder os problemas, nem de propagar o separatismo e muito menos deixar o bairrismo tomar conta. Sempre preguei o cosmopolitismo, me sinto cidadão do mundo, pois em cada canto que eu ando faço dele o meu pedaço de chão.

Eu cresci em meio a ambiente tradicionalista. Meus pais gostam até hoje de tomar chimarrão, de ouvir músicas regionais, de comidas típicas. Já assisti muitos desfiles de 20 de setembro, onde toda a alma campeira se agiganta, comemorando uma guerra perdida e se vangloriando da coragem, virilidade e bravura dos gaúchos. Na medida em que fui ficando adulto, e desenvolvendo o senso critico, comecei a ver que a coisa não era exatamente do jeito que aparentava. Que a guerra foi muito mais uma sucessão de interesses econômicos, que os costumes campeiros foram se moldando nas conveniências da história, que a virilidade e a macheza decantada obedeciam a critérios estreitos que quando colocados às claras, revelavam coisas escondidas e limitadas. Que muito machismo, preconceito e ignorância estavam escondidos debaixo daqueles pelegos.

O Rio Grande que eu amo é muito maior do que uma junção de costumes que meia dúzia um dia definiu como símbolos do gauchismo. A alma gaúcha, para mim, esta muito mais assentada em outros valores como a solidariedade, a amizade, o cultivo das relações. O espírito Rio Grandense vaga pelas ruas da “Cidade Baixa” nas noites do final de semana, dança no “Ocidente” numa sexta, senta olhando o movimento nos cafés do “Moinhos de Vento” nas tardes de sábado, passeia nas manhãs de domingo no “brique da Redenção.” Alí entre passantes da Rua da Praia, nos cruzamentos da Ipiranga e da Independência, nos lotações, nos parques, nas igrejas, nos eventos culturais, nos ”Gre-Nais”, que se mostra o verdadeiro gauchismo. Ser gaúcho é receber os amigos de outros estados e países, como fiz várias vezes, e levar para ver por do sol do Guaíba, que se desmancha numa coloração ferrugem diante da platéia boquiaberta.

A cada volta a Porto Alegre, “cidade do meu andar” como diz nosso poeta, sinto meu coração feliz logo que chego ao aeroporto. Ali sentindo o ar sulista já começo a sorrir. Andando pelas ruas, vendo o rosto das pessoas, encontrando amigos e fazendo mais conhecidos me sinto em casa e encontro parceiros do mesmo sentimento e afeição. Quando chega a hora de retornar não chego a ficar triste, pois esta circunstância é fruto de uma escolha e de uma série de oportunidades que me dão outras vantagens, mas um sentimento da boa saudade me invade e fico esperando o dia do retorno. Fica sempre a promessa de voltar em breve, como quem abraça um amigo que ficou distante pelo tempo e que a cada encontro nota suas rugas aumentando.


Sou feliz por ter conhecido já um bom pedaço do mundo, mas sou bem mais feliz por ter nascido gaúcho e por aprender a cultivar estes valores que nos torna receptivos e afetuosos. Lógico que nem todos os gaúchos são assim, mas este sentimento vive na alma de grande parte dos que viveram por lá, inclusive os gaúchos por escolha e adoção. Alias vão além dos limites territoriais do estado, conheci gaúchos apartados do território, mas cultuadores do chimarrão, da cordialidade, companheirismo, de longas conversas e dos sentimentos que se pode contar em todos os momentos. A reunião das culturas que formou e forma o Rio Grande é o sua maior representação, uma amálgama de vidas que convivem e ajudam a conservar o verdadeiro gauchismo, como diz o nosso hino que “sirvam estas façanhas de modelo a toda a terra”.

7 comentários:

Anônimo disse...

Amo todo o lugar que tem gente. Apesar de todo mau humano, não consigo me imaginar em outra pele. Porém, mesmo que pareça bairrismo - e o é - eu amo ainda mais estes pagos. Adoro o cheiro desta terra, o barulho das pessoas que aqui circulam. Meu olhar não se cansa de visitar este Rio Grande. Eta terra boa pra gente se aquerenciar, tchê. E tu, vivente, que ainda não conhece por aqui, se aprochega, sempre tem um chimarrão prontinho pra ser servido.

M. disse...

Quase um post de 20 de setembro? Ficou muito legal!

Viva o Rio Grande do Sul! :D

Marjorie disse...

Olá

Muito bem escrito o blogg, parabéns!

Sobre o post...Tens sorte de poder ter conhecido tantos lugares e de ser do Sul, as terras belas, cheias de tradições magníficas.

=O


As imagens do blogg são muito bonitas, também.

Sucesso para ti

Del

Anônimo disse...

Sou louca pra conheçer o RS! Não só por ter tão belas paissagens, mas por achar a cultura Rio Grandensse uma das mais interessantes e bem mantidas do pais!
Parabens por esse orgulho de ser de onde é! Eu tb o tenho!

MaxReinert disse...

hummm...... momento sou gaúcho e não nego!!!!!! Pois... eu admiro bastante a cultura dos gaúchos tbm... é um dos poucos lugares do Brasil que se conversa com pessoas tão bem informadas... eu costumo medir os lugares pela conversa dos taxistas.. e os gaúchos, assim como os de Buenos Aires dão histórias muito interessantes!!!
bjzzzzzzzzzzzzz

Anônimo disse...

e eu sou Pernambucano e adorei vir aqui e te conhecer. Parabens!

viva o Rio grande do Sul

abraço

Anônimo disse...

Tu tava com saudade do Rio Grande, hein?
Mas, bah!
Adoro teus escritos!
Ótimos!
Força na peruca!
bjok