TRILOGIA “AS NÚPCIAS”
Especial para Tati e Serginho - os noivos do ano.
ATO I – A NOIVA
O dia começa numa repartição do Governo Federal gente chegando, computadores sendo ligados, café para acordar direito, conversa baixa como manda a etiqueta do inicio do dia. Quando o clima já esta armado eis que aponta na porta de entrada uma mulher linda, com a pela cor de castanha, olhos amendoados e corpinho manequim 38 bem distribuídos no seu 1,8 de altura. Andando rápido e sorrindo desliza na passarela ministerial como uma vedete que ganha o palco. Uma assistente social chique que usa grifes, exala bons perfumes e não freqüenta passeatas da “catiguria”. Falando num telefone cor-de-rosa, mesma cor de suas unhas, ela ‘e ouvida por todos que levantam a cabeça ao seu passar. Com uma mão segura o telefone, com a outra liga seu computador, e antes da ligação acabar já esta se comunicando pelo google talk, postando coisas no facebook, respondendo mil emails e falando, falando falando...
Puxa conversa com, um chama outro, conta uma novidade ali, pergunta uma coisa acolá e a todos chama de “cara” seja um colega, a moça do cafezinho, o chefe ou a secretaria. Esta virginiana, do ultimo decanato, tem na exigência da perfeição uma de suas características. Se puxa onde pode para dar o melhor e exige dos que estão a sua volta o mesmo. Da formação marista, “`a sombra do estandarte de Maria”, traz um ideário forjado nos sentimentos de solidariedade e amizade que se solidificaram em sua formação num lar cristão. Mas possui luz própria para ficarem presa as convenções da tradição e fez do seu próprio corpo uma forma de comunicar seus sonhos e anseios, uma obra de arte ornada com treze estrelas bem distribuídas, cuja curiosidade alheia sempre desponta querendo saber o caminho desta constelação intima. E ainda que rir mais longe nas trilhas da body art “ sou uma obra incompleta” declara.
A ansiedade às vezes chega a transbordar pelos poros e ela quer segurar o mundo com as mãos, se desespera com o tempo que corre, com a demora dos outros, com a perda de tempo em preocupações menores. Nos últimos meses o assunto tem sido um só: o casamento no inicio de julho, e ai não tem casamento real que abale sua disposição de tornar esta data realmente inesquecível no calendário social da capital da Republica, onde vive. A epopéia dos detalhes, da cerimônia e festa, da viagem de lua de mel e – principalmente – o dilema da lista de convidados é acompanhada com o mesmo clima de uma final de Copa do Mundo.
E foi numa das noites de balada do Planalto Central, já há muitos anos, entre garrafas e musica alta, que descendo uma escada conheceu o Serginho. Usando um chapéu andrógino e se apresentando como “Tati Estrela”, chegou a levantar suspeitas de que era uma trans. Mas a linguagem dos amantes se encarregou de levar pra longe as duvidas e as certezas foram crescendo ao longo dos seis anos. O taurino se entregou e os astros se encarregam de conduzir o resto da história.
TRILOGIA “AS NUPCIAS”
ATO II– O NOIVO
Do latim o nome Sergio significa, o pastor, o protetor, aquele que cuida. O diminutivo é uma forma carinhosa de tratar este menino de 31 anos, nick certamente herdado do tempo de criança para diferenciar quando chamavam o pai, que tem o mesmo nome. Uma coisa todos concordam depois da primeira vez que encontram o Serginho: “ ele é boa gente” . A segunda coisa é “que deve ser fácil conviver com ele.” Calmo, tranqüilo e sempre sorridente este torcedor do Botafogo, já admirava a estrela do escudo do time, antes de encontrar a sua constelação. Se antes era a “estrela solitária” que o conduzia, agora mais de uma dúzia ocupam o seu céu. O jeito formal do cotidiano- advogado de uma agência de regulação- ocupado com processos, audiências, reuniões, consumidores afoitos, pressões políticas e muita burocracia, se desmancham no final do expediente quando chega numa mesa de bar entre gargalhadas e piadas. Quem cruzasse pelas avenidas cheias de gente no carnaval do Rio de Janeiro este ano, não iria reconhecer este profissional dedicado, que trabalha de terno e gravata, na fantasia criativa de cisne branco, acompanhado a noiva assumindo seu lado cisne negro.
“Serginho disse isto, Serginho falou aquilo, Serginho vai ser mestre, Serginho ainda não veio ainda, ta atrasado”, repete a noiva milhares de vezes ao dia. Ele com certeza deve escutar seu nome muito mais vezes, e com a tradicional ponderação taurina escuta, observa e segue o que esta fazendo. Mas por trás de toda esta temperança aparece um roqueiro, fã dos Ramones, a banda apontada como uma das mais influentes da historia do rock. Comenta-se na bolsa de aposta que a trilha sonora do casamento vai incluir um dos clássicos da banda. Não sei certo, mas não provoque alguém quem sabe cantar “You can't say anything Nice.”
Quando às alianças tiverem sido trocadas uma longa história de sorrisos e lagrimas, de encontros e desencontros, de risadas, beiços e muita vontade de ficar junto vai estar culminando e ganhando uma nova versão, após a formalização diante do divino e o testemunho dos familiares, amigos e da sociedade. Serginho vai continuar com o apelido do diminutivo do nome, mesmo se tornando um senhor com todas as responsabilidades que o posto exige. A barba que emoldura seu rosto e impõe um ar austero, serve para fachada enganando a primeira impressão de que ele é “um cara bravo”. Um casamento não muda o jeito da pessoa, mas suas influencias se sentem gradativamente no cotidiano, mas começar uma união, com papéis assinados diante de um oficial, com dois usando blusas listradas já é um bom sinal.
TRILOGIA “AS NUPCIAS”
ATO III– OS DOIS
O casamento é um ritual antigo que os jovens sempre consideram fora de moda, mas que todos se rendem a mágica do momento. Na idade da pedra era mais fácil: o homem batia com um tacape na cabeça da mulher e depois levava ela para a sua caverna arrastada pelos cabelos. O tempo correu e tudo mudou. Os modelos de pele de animal ficaram ecologicamente incorretos e são substituídos. Noivos e noivas escolhem com detalhe cada peca do seu vestuário, cada detalhe da cerimônia, cada minúcia da festa e das núpcias.
Vendo as fotos dos anos de namoro não tem que não perceba o sorriso sempre presente em cada uma delas. Não acredito muito neste papo de alma gêmea e de “feitos um para o outro”, mas não tem quem negue que os dois se curtem. A astrologia abençoa o casal. Para o céu astral Touro e Virgem são sinceros e dedicados um ao outro e são, ambos, muito íntegros. Eles se admiram mutuamente: Virgem gosta da força e dedicação de Touro e este aprecia a mente rápida de Virgem. Viu só? Já o milenar horóscopo chinês aponta que ele é do signo de macaco ( nada a ver com o perfil peludo do noivo) e ela é de galo ( a que canta e tem espora forte). E para completar este astral místico o ano de 2011 é de coelho ano da fertilidade, da fartura, da abundância. Tudo a ver.
Quando chegar o segundo sábado de julho, a lua crescente estará reinando linda no céu mais aberto e mais bonito do Brasil, junto com ela os desejos de que cresçam também as coisas boas estarão cercando os noivos. Não fica difícil de imaginar a emoção dos dois, manifestadas de formas diferentes, mas igualmente intensa e admirada. E depois de todas as formalidades e festividades o que vem? A lua de mel na exótica Turquia. Muitas felicidades e alegrias, ou como se diz lá na Capadócia: “yeni evliler canlı.”
Um comentário:
Lindo texto Liandro... e felicidades aos noivos!!!
Abraço
Deison
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