segunda-feira, abril 21, 2014

O DIA EM QUE GABRIEL GARCIA MARQUES ENCONTROU GABRIELA LEITE



Num bar de largas varandas no setor de bares do Céu, esta Gabriela Leite numa mesa de canto bebendo uma cerveja enquanto espera alguém. Ansiosa acende um cigarro e quase ao mesmo tempo em meio a bruma das nuvens que cerca aquele território celeste, surge na esquina um senhor baixinho, bigodudo, elegante, com passo miúdo e sorriso grande que caminha em sua direção.
- Gabi, diz ele enquanto a abraça.
- Finalmente, que demora da porra hein!
- Vim de trem e fiz uma parada em Macondo, você sabe eu sou um sentimental.
- Entendo, diz ela, quando vim para cá fiz várias paradas sentimentais antes de chegar ao destino. Em cada mesa que bebiam por mim eu parei, o bom foi que não fiquei bêbada.
Ele serve um copo, ergue em direção dela e diz:
- O que conta é que estamos aqui, Gabriela e Gabriel, dois anjos do boteco de Deus para toda a eternidade.
E levantando os copos brindam.
- Mas me conte Gabi, como é aqui ?
- Melhor que São Paulo e pior que o Rio.
- Uma Belo Horizonte então ? Indaga.
- Mais ou menos. Mas sem a zona boêmia infelizmente, diz ela.
Gargalhadas.
- Eu sei decor a abertura do “ Cem Anos” você sabia ? Ela conta.
- Sério ? Nem eu me lembro direito, mas quando vejo você me arrependo não ter escrito “ Minhas Putas Alegres”.
- Mas agora você tem todo o tempo.
- Metade vou usar pra não fazer nada e metade pra descansar disto.
- Xiii, diz ela com desolação, começou mal. Eu que não transo esta de ficar parada já tô querendo voltar.
- Mas o céu parece bom, tem cerveja, cigarro e mulher bonita. Alfineta sedutoramente.
- Nem vem com esta Gabo que a cerveja é só ilusão de sua chegada e esta cantada ta bem abaixo do Amor nos Tempos de Cólera.
- Gabi não faz assim. Você é mulher.
- Mulher sim e Filha, Mãe, Avó e Puta. E sua fama de galanteador já vem de longe.
Mais risadas.
O clarim do arcanjo anuncia a hora do fechamento do bar. “Amanhã é Paixão e hoje tudo fecha cedo por aqui” explica Gabriela ajeitando os óculos.
-Mas não é possível nem uma saideira ?
- Claro.
- Eí Isaías traz uma aí pra comemorar a chegada de um ídolo, diz ela ao garçom.
As nuvens vão envolvendo o lugar e milhares de borboletas amarelas circulam pelo avarandado, junto delas estrelas lantejouladas emprestam um ar de cabaré à cena. Ao longe se escutam gargalhadas, como velhos amigos que brindam um encontro de pessoas de mesmo nome e destinos diferentes que o além se encarregou de juntar.



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