terça-feira, junho 05, 2007

Eu já pensei em ser padre


Nasci numa família católica. Minha avó guarda uma fitinha vermelha, já desbotada, do Apostolado da Oração como uma medalha. Minha mãe nos ensinou as orações ainda crianças e, dizem, que quando pequeno me ajoelhava onde estivesse quando o sino da Igreja matriz replicava. Depois veio a primeira comunhão e a convivência intensa em grupos de jovens, na época também um refúgio para o debate de idéias ainda sufocado pelo fim dos anos de ditadura militar. Passei a ser atuante nestes espaços, chegando à liderança e coordenação. Quando veio a adolescência e os conflitos do despertar da sexualidade ficaram mais intensos vivi o conflito da culpa e da divisão interior, confessei, me penitenciei e voltei a pecar.

Nesta época veio a curiosidade e a atração pela vida consagrada. Achava interessante o estilo dos monges isolados, com a vida dedicada à oração, a reflexão e ao silêncio. Me atraia a vida dos padres animadores de comunidades, ouvidos atentos aos problemas, mão amiga na hora das dificuldades. Assim fui conhecer a vida no seminário com a companhia de um amigo seminarista, hoje padre atuante e engajado. Era um prédio grande, na região metropolitana de Porto Alegre, com imensos corredores frios e que reproduziam o som de nosso andar num eco harmonioso. As refeições em conjunto, as orações da manhã e da noite, os cantos, as leituras, os estudos, as oportunidades de reuniões e debate de idéias, a convivência com gente de todas as partes do estado. Lembro-me que a disposição dos dormitórios obedecia a uma simetria perfeita. Quando o recém ingresso chegava, se instalava numa ala e na medida em que ia avançando nos ciclos e a ordenação se aproximava, trocava de quartos até atingir a área final já com os estudos concluídos e a véspera dos votos. Tudo isto fascinava a minha mente adolescente, ainda limitada em experiências e capacidade reflexiva.

Depois as coisas do mundo passaram a me atrair mais, os primeiros namoros, o trabalho, a descoberta do mundo, entre prazeres e sofrimentos. Fui descobrindo a mim mesmo e vendo minhas limitações para uma vida tão calcada na disciplina e as diferenças enormes entre o que é pregado e o que é praticado, numa Instituição cheia de falhas, incoerências, erros e hipocrisias. Ainda sou um cristão praticante, mas dono de um modo próprio de encarar as questões de fé, mais livre da rigidez das normas e mais focado em valores como solidariedade, tolerância, cuidado mútuo e companheirismo.

Sinto ainda um prazer imenso em ouvir um canto gregoriano, em sentir o cheiro de incenso, em observar os paramentos conforme a época. Gosto muito de visitar igrejas vazias e observar as representações ali contidas. Nos países que visitei sempre vou à missa e, através do ritual, percebo um pouco da cultura local. Em Havana as celebrações eram a portas fechadas com as pessoas entrando e saindo rapidamente, como se estivessem num ato clandestino. Na Índia os homens sentados de um lado e as mulheres de outros e na hora do “abraço da paz” não se tocam apenas unem as mãos e se inclinam para um lado e para o outro. Na Franca, na célebre “Notre Dame”, a missa é um espetáculo onde os atores se movem quase como uma coreografia ensaiada nos mínimos detalhes. No Canadá são efetuadas três coletas no decorrer da cerimônia e nos países da África não há coleta, mas uma pequena sensação estranha quando se é o único branco dentro do templo.

Eu não me tornei padre, mas vivo muito valores idênticos aos deles ao meu modo e tentando não prejudicar ninguém. Sou um bom ouviente, procuro ajudar dentro das possibilidades, cultivo amizades, auxilio nas dificuldades, me preocupo, sou presente. Vivo a fé com intensidade discordo em muito das posturas da Igreja, mas também tenho um profundo respeito. Ser um cristão que vive de forma livre e responsável, às vezes é um conflito, mas é neste confronto que minha personalidade se ampara e minha alma se conforta e, assim, que eu vivo feliz.

10 comentários:

Anônimo disse...

Não deu certo sua tentativa ?
Parabens blog bem feito







Meu Blog manda novidades >

http://spokcortez.blogspot.com/

Pa[†φ] BEiJo disse...

eu tmb sou católica...mas diferentemente de vc...eu não sou praticante...a igreja católica é uma das mais atrasadas de todas...e por isso...por ela pregar a culpa..eu não vou muito mais a missa...pois por descordar de muita coisa..me sinto hipócrita em compartilhar da comunhão e da palavra...eu sempre fui bem entrosada com a igreja quando mais nova fiz 1° comunhão..fui anjinho na igreja nas apresentações e procissões...crismei...e ainda tenho o sonho de casar la...pois por mais q eu descorde de algumas coisas...eu sei q Deus esta do meu lado...e por isso quero compartilhar esse momento e qm sabe batizar meus filhos e assim vai...mas...meus pensamentos em relação a religião são diferentes do que pregaram a minha vida toda...creio em deus...mas realmente a religião é cheia de furos...e por um desses furos eu sigo minha vida tendo certeza de q eu não vou ser julgada culpada...eu não concordo termos q sentido culpa pois na bíblia tem q deus nos deu o livre arbítrio, e é nisso q eu sigo minha vida...no livre arbítrio...pois se ele nos deu essa livre escolha então somos nos qm decidimos a nossa vida sem culpa...lógico respeitando algumas leis...

vou ficar por aqui...se eu continuar falando oq eu penso eu vou ser expulsa e exorcizada ahuahauha
bjus
se cuida
passa no meu tmb

Anônimo disse...

Liandro
Concordo com sua cronica do dia.
Como sempre você conta o fato sem ofender a ninguem. É a pura verdade infelizmente. Jesus veio ao mundo não para fundar uma Igreja, mas pregar o AMOR. São poucos que praticam este ensinamento.
Se voce gosta de canto gregoriano o Mosteiro de São Bento, aqui em Brasilia no Lago Sul, na missa de domingo as 10AM pratica o canto. Chegar cedo, começa as 10AM e acaba as 12, com o Angelus.
Com Amor
Helô

Diego Moretto disse...

Olá cara, vi vc lá na comu e como gosto de seu blog, passo por aqui.

Acho que ser padre nunca me passou pela cabeça não. Na verdade, na época da catequese eu já questionava tudo. tinha muita coisa que desde aquela época eu já não concordava. Mas o que mais me chamou a atenção mesmo foi a sua descrição de cerimônias por onde visitou....massa demais, vc deve ter viajado muito meu caro, quem me dera esta sorte, hehehehehe. Mas é isso. Grande abraço!

Anônimo disse...

Sinceramente? Que bom que não "virastes" padre...Já pensou tu fazendo voto de castidade? Quanta gente ia sair perdendo!!!
Saudade.

Patrício disse...

Eu segui um caminho diferente na infância, era evangélico, batizado e tudo. Quando eu ia na locadora alugar filmes, sempre alugava histórias bíblicas e tal.

Também tive um conflito dentro de mim, entre o certo e o errado. Mas a terapia tratou de me curar logo disso.

Confesso que vim parar aqui só porque vi tua foto no orkut e imaginei que tivesse alguma relação com o post do blog, hehehehehe...

Abração!!!

Carlos César disse...

Caro Liandro,

Peço permissão para tomar suas palavras como minhas também. Vivi e vivo realidade parecida. Apesar de jovem, vivi grande parte daquilo que vc escreveu no seu riquíssimo texto. Quis o destino também( nem tanto),que eu viesse me mudar para Brasilia, com isso houve uma reviravolta na minha vocação..Enfim,uma longa história. Escrevo para dizer que identifiquei-me com suas palavras e seu blog.
Gostaria de te convidar a visitar o meu também. Ficaria muito grato.

Um forte abraço,

Carlos César

garoto de reticências disse...

Padre... Nunca imaginei!
mas é bonito ver valores sendo preservados por você. Preservados mesmo que com tantas coisas conspirando contra, como acontece com todo mundo.

Seu blogger está muito bom!!!
Parabéns!

eu, como já disse, estou pensando seriamente em desativar o meu.

abraços!
boa viagem!

DOUGG disse...

padre né???!! ...sei!

hahahahahahahahah

MaxReinert disse...

Eu NUNCA pensei em ser padre... embora viva cheio das limitações da moral cristã....................
pois......... acho que é ela (a tal da moral.... que...... me ........enche de.......... reticên............................c........i.....a...s...............