terça-feira, julho 24, 2007

Ainda sobre o acidente




Eu estava fora de casa e foram inúmeras as ligações e mensagens que recebi querendo saber se eu estava bem e, principalmente, se não estava no vôo acidentado. No começo não percebi a gravidade, mas à medida que o noticiário começou a despejar toda a realidade da situação, fiquei muito triste com a dor dos que perderam seus familiares e amigos. Na lista pude identificar três pessoas conhecidas com quem convivi em algumas partes da vida. Uma colega de faculdade que encontrava seguidamente nas ruas e parques de Porto Alegre distribuindo um jornal que ela editava, um profissional com quem trabalhei no inicio da carreira jornalística e uma professora da especialização, querida, amiga, acessível e sorridente. Fui localizando os nomes aos poucos e recebendo devagar a carga que as noticiais traziam.


Nos últimos dias o trágico acidente aéreo tem sido assunto quase o tempo todo. Ao se folhear um jornal, ligar a TV nos noticiários e rádio nos programas de debates ou acessar os sites de informação tudo converge para o mesmo assunto. A morte sempre assusta e quando acontece levando um grande número de pessoas assusta muito mais. A imagem divulgada das famílias desesperadas ilustrava não apenas a dor da perda, mas a falta de habilidade, que a maioria de nós tem, em lidar com a morte, embora ela seja a coisa mais certa da vida. Morte e perda é uma combinação difícil para mim, demoro muito a elaborar, sem que deixe de continuar caminhando. Fico tempo pensando, refletindo, avaliando. Não forço o sofrimento, mas quando ele vem também não fujo nem das lágrimas que possam ocorrer. Senti-me afetado por este acidente e em várias ocasiões senti a tristeza que faz sofrer, a dor da perda, como se fosse um daqueles que perdeu alguém muito próximo.


Nesta semana devido a uma necessária troca de aeroportos em São Paulo fomos obrigados a passar pela frente do local do desastre. Paredes caídas, cinzas, ferros retorcidos. Fumaça ainda tênue e homens trabalhando tentando identificar pertences, encontrar corpos, procurando algum pedaço de lembrança perdida no meio do caos. Para uma boa parte dos que passam por este trauma, depois do desespero da realidade, as lembranças são a única forma de conforto que nos alivia diante de uma adversidade deste tamanho. Para outros impera a busca de justificativas, justiça, vingança em todas as suas colorações. Cada um tem sua forma de reagir conforme a índole a que se propõe. Cada um compensa a dor de sua forma e todas são legítimas.


Vendo aquele prédio destruído e a reação das pessoas que por ali passavam pensei que não é difícil de entender os gritos, choros e as reações de revolta que aquele episódio produziu. Não há compostura que resista a tamanha avalanche. Por mais sensato que uma pessoa possa ser é difícil se manter assim vendo o pouco caso que estas questões são tratadas, o despreparo de uma parte dos homens públicos ao lidar com estas realidades, a irresponsabilidade e a incompetência de um processo cujo este acidente é uma parte.


Um misto de tristeza, incredulidade e desesperança me invade quando sou atingido pelas noticias do episódio. Quem viaja constantemente sabe que os problemas e desrespeitos são constantes e que não se vislumbra saída imediata para isto. Nesta semana enfrentei atrasos de quatro e cinco horas, cansaço, fome, falta de informações e mau humores. Meio anestesiado pelo ocorrido nem tive forças de amplificar as reclamações, preferi concentrá-las em oração para que minha chegada fosse segura. Vivemos um tempo em que devemos nos dar por satisfeitos quando o básico se realiza, como se fazer o que se deve fosse uma benesse. Tristes tempos.

9 comentários:

Anônimo disse...

Até quando coisas do tipo vão continuar acontecendo ?

lamentavel.


Abraço

Anônimo disse...

é triste a realidade brasileira, e o desrespeito das autoridades!!

Victor Zanini disse...

nossa foda velho mesmo!
o brasil topdo sente a perda das pessoas.
fica melhor ai!!

abração

Anônimo disse...

é.. realmente lamentável, eu não tinha nenhum parente ou amigo próximo no vôo, graças a Deus, mas é impossível não se emocionar diante da situação. Fico muito triste, por ser apaixonado por aviação e ver o caos que está nesse setor em nosso país... Dias melhores virão, eu espero.

abração guri!

Anônimo disse...

Mais esse acontecimento infeliz no nosso país... Pra mim a tragédia com a Gol foi a gota máxima, e agora... acontece denovo,onde vamos parar? Avião agora cai encima das pessoas, levam diversas vidas... Fatalidade??? De jeito nenhum! Na minha opinião Congonhas tem que fechar, não tem condição de sustentar a demanda.. lamentável e triste!

Jeffmanji disse...

Poxa... posso dizer que vc esteve mais próximo ao acidente do que au. Não só geograficamente, mas, chegar ao onto de receber ligações para saber se está bem... deve ser meio angustiante, né?

Só nos resta, agora como sempre, esperar.

Anônimo disse...

"Pra uns a vida é ruim, pra outros elas é horrorosa..."

Minha frase favorita nos últimos tempos, sem querer ser pessimista, claro!

Hhahahahaha... mas é, fazer o q?!

MaxReinert disse...

"Vivemos um tempo em que devemos nos dar por satisfeitos quando o básico se realiza, como se fazer o que se deve fosse uma benesse."

Concordo totalmente com essa frase.... é a tal da política da mediocridade!!! Ela está se espalhando... nos serviços, na política, nas artes.... em tudo!!!!

Tristes tempos, MESMO!!!!

R Lima disse...

Esse é o Brasil.. infelizmente.. do DESCASO!!!



Tem pergunta para você lá no AveSSo... passa por lá.

Oportunidade ao bom pensar.

Se você deixasse de existir amanhã que falta faria ao mundo?


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