Depois de quase três meses voltou a chover em Brasília. Do meu quarto quase não acreditei quando ouvi o som dos pingos, mas quando veio o alvoroço dos vizinhos, que gritavam e aplaudiam me chamou a atenção. Corri pra janela, estendi as mãos e senti a água gelada que caia do céu, sorri como criança que ganha doce e olhei ao longe, além da rua e dos prédios, o horizonte que parecia sorrir também recebendo a bênção. Desde que me mudei para cá não havia enfrentado uma seca tão terrível. Dormir tem sido uma dificuldade, caminhar de dia uma aventura, respirar algo que ficou difícil. Isto aliado a certa irritação com a cidade, que por vezes me assalta, tem tornado meu cotidiano muito mais complicado e exigido uma carga de paciência além da conta. Com a seca minha garganta fecha, minha narinas doem, meus olhos ardem, evito sair de dia, e o cansaço imenso é presente sempre.
Mas hoje veio a chuva. Coisa que em Porto Alegre é corriqueiro nesta época aqui se transforma em acontecimento. É como se nos acostumássemos tanto com algo, que somente sua falta revela o real valor. Esquecemos de valorizar estas coisas do dia a dia e somente quando elas não ocorrem, ou não mais existem, mais é que descobríamos o quanto era importante. Não falo de grandes acontecimentos, amores, riquezas, eventos grandiosos e de grande amplitude. Falo sim de coisas corriqueiras como o sol da manhã, do vento do fim da tarde, da sombra repousante, do cheiro do mar. Falo de ouvir um pássaro a caminho do trabalho ou descobrir formas exóticas nas nuvens enquanto se espera o ônibus. Às vezes perdemos muito tempo esperando acontecimentos grandiosos na vida e esquecemos de valorizar pequenos presentes recebidos diariamente.
Ontem, enquanto tomava café, notei que uma violeta nova tinha nascido em um dos três pés que moram na minha cozinha. Nunca havia acontecido isto e pela displicência com que eu cuido delas nem esperava esta reação. A coloração bonita e característica se destaca no meio das folhas verdes e dá a cozinha um ar diferente. Foi uma surpresa inusitada, quase um presságio de que a chuva estava chegando. Mesmo em condições adversas as violetas floriram, apesar de todo o tempo sem umidade à chuva voltou a molhar o chão do Planalto Central. A vida resistindo às intempéries.
Acho que fiquei muito tempo esperando um jardim amplo e florido e não dei a atenção que as violetas da cozinha mereciam. Passei ocasiões amaldiçoando ter que usar guarda-chuva, que eu acabava perdendo, reclamando do vento, de ter que usar capas incômodas e só agora com a longa seca que percebi todo o encanto que a chuva traz. Passei pelas entre quadras de Brasília resmungando contra o sol e só pude perceber a beleza da vegetação muito tempo depois. As adversidades têm um peso que parece insuportável quando estamos sentindo sua ação direta, mas na medida em que elas passam – afinal tudo passa- fica sempre uma sensação de experiência que, quando encarada, serve para toda a vida.
Que tenhamos um tempo de chuvas sem enchentes e que a estiagem não se transforme em seca. Que as violetas surjam lindas e espontâneas, mas que tenhamos atenção ao cuidá-las. Enfim que aprendamos a viver melhor com as adversidades, transformando-as em experiências. E acima de tudo que os detalhes – onde mora Deus e o diabo se esconde - passem a ter lugar de destaque no nosso cotidiano e que os sinais que eles emitem sejam percebidos, afinal a Primavera já chegou para todos nós.
5 comentários:
realmente, só nos damos conta que uma coisa é importante quando estamos sem ela ou perdemos de vez. parabéns pelo blog. se tiver tempo, da uma passadinha no meu tbm.
http://almanaquex.blogspot.com
abraços.
É verdade,quando algo é corriqueiro em nossas vidas acabamos não dando valor,só sentimos falta quando some.Somos assim com tudo.Aqui no Rio passamos por uma epoca sem chuva e mesmo eu que amo praia e cachoeira,resei muito para que chovesse ,até porque com a seca poderia perder aquilo que tanto adoro...bjs...seu blog e muito legal.
Ontem ao cair a chuva para regar a terra seca de Brasilia, tive essa mesma alegria. Para mim não foi e não é diferente a adptação ao clima, no mínimo cruel, de Brasília.
A beleza cotidiana que muitas vezes ignoramos e não damos o devido valor.
Ontem a única coisa que me veio a mente foi a oração de São Francisco que diz " Louvado sejas meu Senhor, pela irmã água que é mui pura,casta e fecunda".
Que aprendamos a ver o encanto nosso de cada dia.
A vida é sábia. Há uma lógica silenciosa na obra criada que pode nos ensinar muito.
A natureza reage à cada estação. Nós também precisamos reagir.
O inverno não é definitivo. A primavera também não. A sabedoria consiste em saber descobrir o ensinamento de cada hora...
E assim prossigamos nós, confiando em Deus e aguardando ansiosos por boas noticias por parte da metereologia.
... e eu aqui reclamando da chuva!!!!!
Eita!!!
Ainda bem que saiu daqui e foi pra aí..... assim não é melhor? Cada coisa no seu devido lugar e necessidade!!!????
bjzzzzzz
Eu durmo com uma bacia de agua e um tacho de cobre embaixo da cama. Dois umificadores, cada um de um lado do leito. Coloco um plastico no espaldar da cama, e uma toalha molhada em cima(amanhece seca), Esta é a minha tecnica para passar a seca. Que a cada ano piora, muito asfalto e concreto. A natureza esta cobrando por ter sido violentada. Moro aqui faz 47 anos e a cada ano a seca piora.
Voce vai ver a chuva de granizo que nunca deixou de cair, fazem bonecos, as crianças e alguns adultos jogam as pedrinhas uns nos outros. Eu costumo após 10minutos de agua de chuva entrar e dançar, agradecer a abençoada chuva. E se notares a grama, a mãe terra já esta agradecendo, a terra esta menos marron. As cigarras estão cantando, e os meus amigos que teem calo estão com eles doendo. Calo doendo sinal de chuva a vista. Tome muita agua, ande de bone, molhe os pulsos e a cabeça. Dá para levar. É dureza mas conseguimos sobreviver. Clima de dserto, durante o dia quente e a noite faz frio. Haja Deus e a Virgem......
NAMASTÊ
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