Existem situações na vida em que novas fases se impõem e é preciso reunir as forças e buscar novas energias para enfrentar a realidade. Acredito que tendemos a acomodação, ao estacionamento, a inércia. Aquietamos numa situação que nos agrada e neste comodismo bom vamos levando a vida de forma saudável e pacata. Quando menos esperamos o inesperado bate a nossa e é preciso começar de novo. Uma demissão, falência, separação, a perda de um bem suado ou de alguém querido tudo isto encerra uma fase e nos obriga a retomarmos o caminho de um ponto que deixamos quando optamos, e arriscamos seguir outra estrada. Às vezes o desgaste e as análises mais elaboradas avisam de que um movimento brusco vai acontecer, mas estamos quase sempre entretidos e nem sempre percebemos, ou não queremos acreditar que a direta há uma curva fechada e que podemos não superá-la.
Quando um destes acidentes invade nossa vida, após a sensação de incredulidade e de abandono, chega à hora de encarar a situação e buscar alternativas de sobrevivência. Refazer currículos, tentar negociar as dividas, recuperar o bem perdido, elaborar a perda de alguém são tarefas difíceis que requerem um esforço grande para alguém que viveu longo tempo aquietado. Quando mais a idade pesa mais difícil fica recomeçar, mais longo fica o caminho entre a porta e a rua, maior fica a tentação de ficar na cama esperando o tempo passar e aumenta a ilusão de que respostas prontas e soluções fáceis vão bater cair do céu.
De todos os “recomeçares” o mais delicado é o das relações. Pode significar um novo tempo como novos desafios, amadurecimentos, surpresas e conquistas, como pode ser um tempo de ilusões, imaturidades e expectativas não cumpridas. Não entendo, mas no fundo invejo a facilidade que algumas pessoas têm de substituir o objeto de afeto numa rapidez que imita os gestos de um mágico. Prefiro um tempo de recolhimento nestes casos, me recompondo gradativamente e me avaliando. Sempre espero- e estimulo- que o recomeçar seja dentro da harmonia da relação, mas quando isto não é mais possível sempre sofro junto com os que passam por esta situação.
A carga de experiências que a vida passa ajuda nas horas de recomeço, mas junto com ela vem o peso das exigências, do cansaço e a carência de crédito nas ilusões. Acho que ficamos mais pragmáticos, e um pouco mais céticos em relação às paixões, tratando elas com o mesmo entusiasmo imediato, mas com a certeza que o risco de virar cinza e fumaça é grande. Depois de se viver um grande amor, se lambuzar nas delicias que isto proporciona sentir o amadurecimento que ele traz e se cortar com as limitações que ele impõe, a visão sobre paixões fáceis fica mais descolorida.
Um recomeçar exige muito e o seu custo é alto. Esgotadas as alternativas e com a exigência crescente de uma mudança ou de uma continuidade de evolução, tentar novas possibilidades é a saída. Tratar a auto-estima, se permitir erros e abrir espaços para oportunidades novas são processos que exigem e podem demorar. Nossos vínculos com a situação finalizada permanecem para sempre. Por isto é fácil sentir fantasmas rondando repartições por onde passaram um pedaço da vida ou alunos repetentes errarem de sala. A aliança do dedo sai com facilidade, mas a do coração fica mudando um pouco o seu formato, mas conservando o brilho do ouro.
10 comentários:
parabéns! seu blog tem um conteúdo excelente!
nossa sinhora...
texto mais lindo esse...realmente a vida é feita de vários "recomeçares" e o que faz a diferença nisso tudo é a maneira como escolhemos recomeçar.
parabéns pelo texto e parabéns pelo blog.
um beijo
É, me identifiquei, e muito, com suas palavras. Ultimamente tenho me vista cerceada por algumas teorias, uma delas seria a de Tales de Mileto, dos círculos. Aquela questão de que nossa vida é feita de círculos, transições... Inicia-se, dura um tempo e logo fecha, daí recomeçamos tudo novamente... Pra que isso? Aprendizado, óbvio.
Você tocou em um ponto muito importante, os círculos das relações quando fecham, leia-se terminam, são os mais complicados. Temos a tendência a nos acostumarmos com esta ou aquela situação, e a dor é grande. Na parte que tange os relacionamentos existe até uma espécie de dor física, que é fato, pois nos acostumamos com as sensações que sentíamos ao lado daquele ser amado, quando não as sentimos mais, perdemos, dói!
Mas é isso. A vida é feita de “Recomeçar”, de transformar. “Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma...”. E o acaso? Ah, tudo isso não acontece por acaso, porque o mesmo nem existe.
Parabéns pelos textos e pelo blog.
Um abraço!
O seu blog tem tudo haver com isso...
é lindo o seu texto!!!
Passa lá no meu também...
Janaína
O seu blog tem tudo haver comigo... é lindo!!! Passa lá no meu também!!!
Janaína
e eu ainda complementaria o seu recomeçar com um [re]aprender.
recomeçar é sempre importante...
ótimo blog!
Hmmmm, começando uma nova fase?! Boa sorte!!!! Rs.
obrigado por ter visto meu blog...
mas uma coisa eu tenho a lhe dizer:
VIVA O SER HUMANO E SUAS COMPLICAÇÕES
abraço
Ps: Gostei do blog
Faço minhas as palavras de Tatiana, acrescento apenas, a história do trem, vai camionhando, para nas estações, descem passageiros, sobem outros, e, muitas vezes temos de fazer baldeação para chegarmos a reta final. Os passageiros são os nossos amigos e familiares, descem, morrem, chegam outros e camos caminhando para cumprir o nosso destino e a nossa missão neste planeta e nesta dimenssão.
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NAMASTÊ
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