sábado, junho 21, 2008

Você Perdoaria ???


Dona Marinalva, minha diarista, não conhece Nova York, nunca teve um sapato Manolo Blanihk, nem uma bolsa Louis Vuitton. Casada há 28 anos, diz que até tolera as escorregadas do marido, mas jamais admitiria que ele a deixasse mal perante os outros. Ou seja, finge que não vê quando ele demora para chegar em casa e diz que estava no bar da esquina com os amigos, mas jamais aceitaria vê-lo dançando de rosto colado com outra mulher, no forró onde toda a vizinhança freqüenta. Para Dona Marinalva a traição maior é expor a outra ponta da relação à humilhação pública, tornando-a causa de pena e objeto de mimo dos demais. Já Carrie Bradshaw é uma mulher independente que mora sozinha, trabalha, fuma, faz as compras que quer e até, às vezes, transa só para ter prazer. Mas seu sonho é ter um casamento glamouroso com o homem que ama e se articula muito para chegar à sua meta, mas na hora o noivo amarela. Mesmo depois de anos de relacionamento, de inúmeros separa/retorna, de conversas, troca de idéias, coisas feitas juntas, histórias para contar. O noivo vacila, acha tudo muito demais, leva medo. Apesar de ser maduro e experiente, na porta da cerimônia acha que não é para ele aquilo e vai embora. Logo em seguida, tenta consertar, mas já é tarde. Resta uma noiva deprimida e um noivo arrependido. Tão pior que a covardia dele foi a exposição a que ela acabou sendo submetida, inclusive com matéria na Vogue.

O resumo destas várias histórias, que têm o amor romântico como base, é também o resumo do novo sucesso no cinema: o filme “Sex and the City”, baseado no famoso seriado que, em seis temporadas, se transformou num marco de sucesso em diversos países, no Brasil inclusive. E o ápice do longa é justamente esta cena do (quase) casamento. Imagine o dia dos seus sonhos. Uma cerimônia linda montada num lugar deslumbrante, vestido de grife espetacular, todos os amigos, badalações como se fosse o evento do ano e… o noivo não vem! Além disto, tem todo um enredo envolvendo as melhores amigas, presenças emblemáticas do seriado que agora é transportado para a telona. Uma mergulha no trabalho e, sem tempo para sexo, sofre uma traição confessada a qual considera imperdoável. Outra acha que é tão feliz que tem medo que algo de mal a aconteça. E uma terceira descobre, aos 50, não ter vocação para o casamento e que seu destino é ser livre. A pergunta que permeia todo o filme é clara: até onde podemos perdoar?

Você perdoaria uma decepção deste tamanho que te expôs de forma tão humilhante? Perdoaria uma escorregadinha que ninguém ficou sabendo? O dano da traição é proporcional ao tamanho do número de pessoas que ficou dela sabendo? O fato de ter confessado ameniza o dano? Mesmo de forma secundária, soterrado na avalanche de grifes e modelitos do filme e escondido entre drinques e tragadas, há um questionamento sobre o perdão. Lógico que se tratam de dúvidas feitas entre mulheres ricas e bem sucedidas, habitantes da capital do mundo consumista e que com acesso ao que existe de mais badalado em matéria de futilidades e modismos. Se transportado para outro ambiente as reações seriam diferentes, mas em qualquer tempo e lugar a discussão traição x perdão estaria presente na vida dos que se relacionam. E não adianta fugir, porque mais cedo ou mais tarde ela bate na sua porta. Não se trata de dar fé ao ditado que “chifre e vogal no nome todo mundo tem”, mas atire o primeiro sabonetinho de motel quem não pediu, ou ouviu, um pedido de perdão cuja raiz estava no fato de ter saído com outra pessoa.

O diferencial do filme é que apresenta de forma muito clara uma traição que não envolve sexo, mas que tem no vacilo de um dos elos do relacionamento o seu ponto principal. Trata-se de um deslize bem localizado, que acontece quando a relação, o namoro, o rolo que já estava evoluindo para uma vida em comum, adquire uma roupagem nova de formalidade e compromisso. O medo de não dar conta disto é grande e então, no filme, se comete à traição da dúvida. Qual a que dói mais?

Minha diarista Marinalva, mulher racional que sabe o que quer e não tem tempo a perder, só afrouxa quando vê as historias de amor de sua sagrada telenovela. Na dia a dia ela é categórica, e se faz pouco caso para as puladas de cerca do marido é porque sabe que, no fundo, ele nunca vacilou com ela. Preocupada com a renda familiar, com o sustento dos filhos e com sua sobrevivência, a diarista fica com o essencial e não guarda tempo para perfumarias. A maioria das mulheres não viu o seriado e não vai ver o filme, e é justamente esta massa que no cotidiano avança em conquistas e respeitos que fazem a diferença da condição da mulher moderna. O seriado foi saudado exageradamente como o que “inventou a mulher moderna”, como se o somatório de futilidades e superficialidades fosse à base da emancipação das mulheres. A modernidade feminina cresceu aos poucos em lares como o de Marinalva, onde as responsabilidades são divididas e os deveres compartilhados, onde se toleram erros humanos, mas jamais vaciladas feias.

A mulher moderna sabe perdoar, mas sabe se valorizar também, e não raro faz disto uma moeda de troca para aquilo. Antes de perdoar traidores e vacilões elas mesmas se perdoam a ponto de se entenderem humanas como eles e, assim, se libertarem para permitir sua nova chance em busca de novos erros.

7 comentários:

MaxReinert disse...

Nossa!!!
Muito bom seu texto....
Ainda não ví o filme.. mas a temática, desde já me agrada!!!

Bjzz

Unknown disse...

Nossa ainda nao assisti o filme, mas me desmotivaram e muito hehehe... mas um dia assisto...

Abraços
Cisco
http://borarir.blogspot.com/

anderson pinheiro a.s. disse...

Nossa deve ser massa então esse filme?!


você resumio e comparou muito bem esse filme pra jente
vlw!

o blog ta massa!

=D

Jân Bispo disse...

o filme tem uma temática interessante, e o filme é viaz, ativo, rapido, não deixa a desejar em nada mesmo, em realção ao tema, acredito que como tudo na vida isso é variavel, exitem os que aceitam e o que não, seu texto é muito bom, um ótimo review do filme com opinião e humor!

Filipe Lázaro disse...

Adorei o filme e teu texto está muito bom, descreve bem e traz à nossa mente as mensagens que ele passa. Show!

Dennys Silva-Reis disse...

Adorei as pedrinhas de sabonete....

Anônimo disse...

Tu contou o final! Hehehehe...

Vou te atirar um sabonetinho de motel hoje de noite! =D

Várias pessoas já me perguntaram se eu era como a Samantha, por ser RP, paoksaoskaopkspaoksaoks...

Até mais!