sábado, setembro 12, 2009
Pó das Lembranças
Ando revirando gavetas por estes dias. Abrindo caixas, rasgando envelopes, olhando no fundo dos armários. As mudanças e a necessidade de organização são acompanhadas de sentimentos que pareciam estar adormecidos num cantinho da memória. Pequenos objetos cheios de história e lembranças que trazem junto a nostalgia do vivido. Um ingresso de cinema amassado, um bilhete amarelado, uma anotação em um guardanapo, cartas de uma baralho, uma aliança (onde andará a outra?). O pó da nostalgia anda invadindo meus sentidos e tenho espirrado lembranças, tossido saudades, fungado tempos pretéritos que hoje habitam minha memória.
No fundo isto que somos: memória, que com o passar do tempo vão se transformando em lembranças, depois em saudades e depois em mais nada. Assim também seremos nós um dia: lembrança e saudade na memória dos outros. As vezes as vivências não se esgotam no período de tempo em que acontecem, seus efeitos persistem e se expandem como ondas de uma pedra atirada num lago. Mesmo quando o cotidiano ocupa tanto espaço a ponto de nos iludir que não ficou nenhuma fresta, as ondas chegam quando pequenos detalhes nos pegam sem aviso. Como se estes fragmentos fossem o passaporte para nos transportar há tempos passados onde a realidade era diferente da atual.
A nostalgia traz em si uma gama grande de sensações, junto dela acompanha a ilusão de que as coisas poderiam ter sido diferentes e a revolta porque isto não ocorreu, mas também a alegria de ter vivenciado o que passou e a esperança de que o futuro possa, de alguma forma, reproduzir a parte boa das vivências. No entanto, de todos os sentimentos que a poeira da nostalgia desperta quando impregna nossa vida, o maior deles é a experiência. É poder olhar em retrospectiva tudo o que foi vivido e ver onde foram os acertos, onde se localizam os erros e principalmente o que se deve conservar ou descartar, ajustar ou não repetir. Infelizmente ainda seguimos padrões que dificultam este aprendizado e romper com estas correntes é trabalho difícil, exige muito principalmente em relação a nossa acomodação.
Vendo esta série de reminiscências que esta arrumação esta me possibilitando localizo muito disto. São papéis sem importância na maioria, mas que me lembram e remetem a bons momentos, penso erroneamente que descartar eles é como descartar as lembranças e experiências também. E assim vão se empilhado, ocupando espaço e acumulando ácaros. Reluto muito em jogar fora estes detalhes, minha tendência é apegar, conservar, guardar mesmo que não os veja todo o dia, mas pela tranquilidade de saber que eles existem e estão ao meu alcance, na expectativa de reviver o que eles trazem.
Mexer com papéis guardados é mexer também em sentimentos interiores guardados. Se sabe que é preciso abrir espaço para que a luz e o ar do novo entre, descartar mágoas, jogar fora desilusões, reciclar traumas por mais doloroso que tenham sido. Infelizmente não existe como delegar esta função, uma faxineira pode limpar nossa casa mas não nossa alma. Enquanto não somo a coragem necessária para um descarte grande, vou gradativamente editando, separando e tentando reduzir o peso do que levarei. O espaço para o novo já existe e aos poucos vai se ampliando, mas algumas coisas sempre ocuparão seu lugar não como fardo pesado mas como manuais norteadores de um tempo de felicidade, mesmo que ingênua, mas produtiva pois ajudou a me construir.
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2 comentários:
Bah, o sentimento de revirar gavetas e lembranças eu já conhecia, mas nunca vi tão bem expresso, tão bem escrito. Muito bom, gostei especialmente deste texto, por me identificar com ele do início ao fim.
\o
Ric
querido!
boa sorte e muuuuuuito sucesso nesta nova etapa...
um beijo do tamanho do carinho que sinto por ti...IMENSO!
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