sexta-feira, janeiro 07, 2011

AVES MIGRATÓRIAS


O inverno no hemisfério norte faz com que milhares de aves migrem para países abaixo do equador, buscando o calor e o alimento mais abundante. Este fenômeno se repete todos os anos e tem espetáculos de rara beleza com o bailado dos pássaros no céu, se deslocando ou chegando ao seu destino final. Aqui na terra humana a chegada de um novo ano no calendário ocidental também traz a possibilidade de migração de idéias e comportamentos. É o tempo em que se fazem os propósitos, se avaliam as circunstâncias, se criam novas possibilidades. Mesmo que daqui a algum tempo eles caiam no esquecimento, o movimento que vale. Nada mais humano.

Tenho sérias dúvidas se as mudanças que ocorrem nas nossas vidas são fruto de nossa ação ou do destino que acaba acomodando as situações diante de nossas dúvidas. Sempre defendi uma postura ativa diante das adversidades, dos problemas, das infelicidades. Acreditava que, como diz uma letra de música antiga, “quem sabe faz a hora não espera acontecer” e embora minha pregação fosse veemente quando a coisa apertada e a necessidade de resolver crescia eu acabava me escondendo e deixando que as alternativas escorregassem sorrateiramente até se tornarem soluções. Sou do time que pensa que não existe livrinho que determine a vida de cada um de forma programada, no máximo creio em tendências que podem ocorrer ou não conforme a livre escolha de cada um. Assim também é a vida dos países e das nações, cheia de possibilidades, mas com a história fruto de decisões pessoais ou de interesses.

Mas quando os acontecimentos se tornam surpreendentes a ponto de causar uma mudança repentina de rumo, fica difícil não crês na existência de um livro de capa dourada que desenhe todos os nossos passos.
Diante dos imprevistos e das oportunidades talvez a mudança de atitude seja o melhor caminho. Nem acreditar fielmente num determinismo que torna o homem mero marionete, nem ter uma atitude extremada de revolta em nome de um protagonismo de sua existência. Mudar o olhar implica em mudar também de atitudes e práticas e isto requer desapego, como a criança que abandona o brinquedo para pegar nos livros. Ou o aluno que abandona os cadernos para pegar nos instrumentos e ferramentas.


Deixar a área de reprodução e migrar, deixar velhos hábitos que não servem mais e mudar. Tanta dificuldade e tanto esforço que nos impulsionam a sobrevivência e a sermos melhores. Cruzar desertos e mares, altas montanhas cheias de neve e grande aglomerados urbanos para chegar num local quente, a lição das aves migratórias que nestes dias estão nesta viagem longa e penosa, rumo a um objetivo final. No nosso mundo cruzemos também além dos obst
áculos e dos modismos, da ocasião que acomoda e da frustração que paralisa em busca de terras melhores onde os sonhos possam ser plantados até serem colhidos como realidades.

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